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Nosso Senhor Jesus Cristo, estando para ser entregue...
tomou o pão, deu graças...
o partiu e deu aos Seus discípulos dizendo:
Tomai e comei. Este é o meu corpo que é dado por vós.
Fazei isto para celebrar a minha memória.
Do mesmo modo, Ele tomou o cálice, deu graças...
e deu a eles dizendo: tomai e bebei todos vós...
este é o meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança...
que é derramado por vós para o perdão dos pecados.
Fazei isto para celebrar a minha memória.
Agora oremos juntos, assim como Jesus nos ensinou.
Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome.
Venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade...
assim na terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai as nossas ofensas...
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...
e não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Vosso é o reino, o poder e a glória para sempre.
Amém.
A paz do Senhor esteja convosco.
Olhe para frente e cruze as mãos.
O corpo de Cristo.
O corpo de Cristo.
O corpo de Cristo.
O corpo de Cristo.
O corpo de Cristo.
O sangue de Cristo.
O sangue de Cristo.
O sangue de Cristo.
O sangue de Cristo.
O sangue de Cristo.
Que a graça e a paz de nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco.
Que a paz esteja convosco.
Obrigada.
Oremos.
Nós Vos agradecemos, Senhor...
pois através de Seu Filho Jesus Cristo...
nos concedeu a graça da sagrada comunhão.
Nós Vos pedimos, dê-nos graça para celebrar a vinda de Jesus...
e sermos dignos de partilhar da Sua comunhão no Céu.
Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
Abram seus corações para Deus e recebam sua benção.
O Senhor vos abençoa e vos conduz.
Que a luz do Senhor brilhe sobre vós...
e seja benevolente.
Que o Senhor vos guarde...
e vos conceda a paz.
Em nome do Pai, do Filho...
e do Espírito Santo.
Amém.
-Não me parece bem. -Só preciso descansar.
O reverendo Broms não pode rezar a missa em Frostnäs?
Não, ele vai viajar com o carro novo.
-Deve ter pegado uma gripe. -Minha garganta dói.
Tomas.
-E então? -O quê?
-Conseguiu uma empregada? -Não.
Não vai conseguir fazer tudo sozinho.
Tenho conseguido há 5 anos.
Por que não fala com Märta Lundberg?
Ela está louca para ajudá-lo.
-Eu poderia falar com ela. -Não, obrigado.
-Bom dia, pastor Ericsson. -Bom dia, Sr. Frövik.
-Olá, Aronsson. -Olá, Algot.
Como vai? Obrigado pelo sermão.
Deseja alguma coisa?
Não, achei que poderia ajudá-los.
Bem, na verdade sim. Preciso lhe falar, pastor.
-Estarei em Frostnäs às 1 5:00. -Terá tempo para falar comigo?
Certamente, depois da missa.
Estarei na igreja uma hora antes para ligar o aquecedor.
Os hinos serão os mesmos?
-Não me parece muito bem. -Peguei uma gripe.
Deve ser por causa do tempo.
-Eu sempre... -Tudo bem.
Ele recebe uma pensão da ferrovia por invalidez...
e uma ajuda do conselho da igreja por seus serviços, eu suponho.
Você tem visita.
A Sra. Persson gostaria de lhe falar.
Preciso lhe falar, pastor.
Pois não.
Ligarei esta noite caso precise de uma ajuda.
Obrigado, mas não é necessário. Por favor, sente-se.
Até logo, Sr. e Sra. Persson.
Gostaria de falar comigo?
Sim.
Na verdade não é bem isso. Jonas é quem...
Mas ele não quer falar...
por isso esta manhã decidi que devíamos vir até a igreja...
e falar com alguém.
Sabe, estamos nos sentindo muito perdidos.
Bem, eu nem tanto...
mas Jonas não suporta mais.
-Poderia falar com ele, por favor? -Sim, claro.
Há quanto tempo está se sentindo perturbado?
Começou na Última primavera.
Jonas leu sobre a China nos jornais.
O artigo dizia que os chineses estão enfurecidos...
e é só uma questão de tempo até que tenham bombas atômicas.
Eles não têm nada a perder. Foi isso que estava escrito.
Eu não me preocupo tanto.
Talvez eu não tenha tanta imaginação.
Mas Jonas não pára de pensar nisso...
e por isso sempre discutimos.
Não tenho como ajudá-lo.
Não com 3 filhos e outro a caminho.
Todos sentem este medo...
de certa forma.
Temos que confiar em Deus.
Vivemos nossas vidas simples...
e atrocidades ameaçam a segurança do nosso mundo.
É tão opressivo e Deus parece tão distante.
É verdade.
Me sinto tão impotente. Não sei o que dizer.
Compreendo seu desespero...
-mas devemos continuar vivendo. -Por que devemos continuar vivendo?
O pastor não está se sentindo bem. Não devia incomodá-lo com isso.
-Além disso, não há o que fazer. -Vamos conversar sobre isso.
É impossível.
Leve-me para casa e depois volte.
Você e o pastor devem conversar a sós.
-Quando pode voltar? -Moramos a 1 0 minutos daqui.
Nos vemos em 20 minutos.
Prometa a ele que vai voltar.
Está bem.
-Seu carro está no estacionamento? -Está na esquina.
Estarei lhe aguardando em meia hora.
Farei com que ele venha.
Estarei aguardando.
Estarei esperando aqui.
Que imagem ridícula.
É você!
-Trouxe algo quente. -Eu tenho café.
Estou esperando uma pessoa chegar a qualquer minuto.
Não se preocupe. Ficarei pouco tempo.
Está ficando bastante frio.
Pobre Tomas.
-O que foi, Tomas? -Nada que lhe interessaria.
Diga mesmo assim.
Deus está silencioso.
Deus está silencioso?
Deus está silencioso.
Jonas Persson e a esposa estiveram aqui...
e eu não disse nada que prestasse.
No entanto, sabia que cada palavra poderia ser decisiva.
-O que vou fazer? -Pobre Tomas.
Devia estar na cama com um conhaque. Está com febre.
Por que comungou?
É um banquete de amor, não?
-Leu minha carta? -Não. Não tive tempo.
Você não tem jeito. Quando chegou?
Ontem, está na minha...
Leia depois, quando sentir vontade.
Mais um domingo no vale das lágrimas.
-Não me sinto bem. -Quer que eu sinta pena de você?
-Quero. -Então case-se comigo.
-Devia se casar comigo. -Por quê?
Porque então eu teria que ir embora daqui.
E por que teria que ir?
Enquanto for uma substituta, posso ser transferida. Para longe de você.
Veremos o que acontece.
Sim, eu sei. Não pode se casar comigo, pois não me ama.
Tenho que ir.
Tia Emma está aqui e quer fazer um bolo.
-Märta. -Sim, Tomas.
E se o Sr. Persson não voltar?
Poderá descansar um pouco e ler minha carta.
-Você não entende. -O café está aqui.
-O que foi agora? -Pobre Tomas. É sério.
-Não estou sendo gentil com você. -Eu sei.
Às vezes, você é impossível.
'Deus está silencioso. Deus não quer falar'.
Deus nunca falou, pois Deus não existe. Só isso.
Vai ficar com gripe.
Tudo bem, já que vem de você.
-Quer que eu fique? -Não será necessário.
-Você tem muito que aprender. -Veja só quem fala.
-Tem que aprender a amar. -E você pode me ensinar isso?
Não posso.
lsto não depende de mim.
Ele tem que vir.
Meu amor.
'Temos dificuldade em conversar um com o outro.
Somos ambos tímidos...
e eu tendo a cair no sarcasmo.'
É por isso que estou escrevendo.
Tenho algo importante a dizer.
Lembra-se no Último verão...
quando tive aquelas feridas nas mãos?
Uma noite estávamos na igreja arrumando as flores no altar...
para uma crisma.
Lembra-se de como eu estava mal?
Minhas mãos estavam enfaixadas e coçavam tanto que não podia dormir?
A pele se abriu, e as minhas palmas estavam em carne viva.
Estávamos ocupados com margaridas e centáureas, não me lembro bem...
e eu me sentia irritada.
De repente fiquei brava com você e o desafiei...
lhe perguntando se realmente acreditava no poder da oração.
Você respondeu que sim.
Num tom hostil eu lhe perguntei se havia rezado pelas minhas mãos...
mas você não havia pensado nisso.
Eu melodramaticamente lhe pedi que o fizesse naquele momento.
Estranhamente você concordou.
Sua complacência me enfureceu, e eu arranquei as ataduras.
Você se lembra do resto.
A visão daquelas feridas abertas o afetou muito.
Você não conseguia rezar.
Toda a situação o enojava.
Depois eu o entendi...
mas você nunca me entendeu.
Já estávamos juntos há um tempo na época.
Quase dois anos...
que pelo menos representou algo diante de nossa pobreza sentimental.
Nossas carícias...
e nossas fracassadas tentativas de disfarçar a falta de amor entre nós.
Quando as feridas se espalharam pela minha testa e couro cabeludo...
logo percebi como você me evitou.
Você me achou repugnante...
apesar de tentar não me magoar.
Então as feridas se espalharam para minhas mãos e pés.
E nosso relacionamento acabou.
Aquilo foi um choque para mim.
Eu tinha que encarar o fato...
de que nós não nos amávamos.
Não havia como fugir daquele fato ou não tentar enxergar.
Tomas...
eu nunca acreditei na sua fé.
Principalmente por nunca ter sido torturada por aflições religiosas.
Minha família não-cristã se caracterizava pelo carinho...
união e alegria.
Deus e Jesus existiam somente como noções vagas.
Para mim sua fé é obscura e neurótica...
de certa forma cruelmente esgotada de emoção, primitiva.
Uma coisa em particular eu nunca fui capaz de entender:
sua peculiar indiferença para com Jesus Cristo.
E agora vou lhe falar sobre preces atendidas.
Pode rir se quiser.
Pessoalmente não acredito que as duas coisas estejam ligadas.
A vida já é confusa...
sem levarmos em consideração o sobrenatural.
Você ia rezar pelas minhas mãos...
mas as feridas lhe causaram repulsão...
algo que depois você negou.
Fiquei louca e tentei provocar você.
Silêncio!
Já que não pode rezar por mim, eu mesma o farei.
Deus, por que me criou tão eternamente insatisfeita?
Tão assustada, tão amarga?
Por que devo perceber o quanto sou desgraçada?
Por que devo sofrer tanto por minha insignificância?
Se há um propósito para o meu sofrimento, então me diga...
para que eu possa suportar minha dor sem reclamar.
Sou forte.
Você me fez tão forte. Tanto em corpo quanto em espírito...
mas nunca me deu uma tarefa digna da minha força.
Dê sentido para a minha vida...
e eu serei uma escrava obediente.
Este outono percebi que minhas preces haviam sido atendidas.
Rezei para purificar minha mente e consegui.
Percebi que amo você.
Rezei para usar minha força em alguma tarefa...
e obtive uma.
Esta tarefa é você.
São estes os pensamentos que passam por uma mente...
quando o telefone não toca, quando está escuro e solitário.
O que me falta é capacidade para lhe mostrar meu amor.
Não sei como fazer isso.
Tenho sofrido tanto, que até pensei em rezar mais.
Mas ainda tenho um pouco de amor próprio apesar de tudo.
Meu querido Tomas...
esta carta acabou ficando longa.
Mas consegui escrever aquilo que nunca ousei lhe dizer...
quando estava em meus braços.
Eu te amo.
E vivo por você.
Me possua e me use.
Sob todo meu falso orgulho e ar de independente...
só tenho um desejo:
poder viver por alguém.
É tão dificil.
Quando penso nisso, não vejo como serei capaz de conseguir.
Talvez seja tudo um erro.
Diga-me que não estou errada.
Eu te amo.
Que bom que veio. Foi uma longa espera.
-Desculpe o atraso. -Não estou lhe repreendendo.
Por favor, tire seu casaco. Vou lhe servir um café quente.
Não, obrigado.
Não creio que passe muito tempo no mar esta época do ano.
Saímos apenas para pescarias curtas.
Muito trabalho?
Sim, estou construindo um novo barco no pátio de Törnström.
Um excelente local. Fiz meu barco lá...
no pátio de Törnström.
Está com problemas financeiros?
Desculpe, mas isto pode nos preocupar.
É verdade.
Há quanto tempo pensa em se suicidar?
Não sei.
Há muito tempo.
Já falou com um médico?
-Quero dizer, está bem de saÚde? -Sim, que eu saiba.
Não é comum...
-Se dá bem com sua esposa? -Karin é boa.
Ela é boa.
Então tudo tem a ver com a questão da China.
Ouça, Jonas.
Serei franco com você.
Sabe que minha esposa faleceu há 4 anos.
Eu a amava.
Minha vida estava acabada.
Não tenho medo de morrer e não tinha motivo para continuar vivendo.
Mas eu continuei.
Não por mim, mas para ser Útil.
Tinha grandes sonhos. Queria realizar algo importante na vida.
Aquelas idéias que se tem quando é jovem.
Não conhecia a maldade ou a crueldade.
Quando fui ordenado, era totalmente inocente.
Então tudo aconteceu de uma vez.
Fui pastor em Lisboa...
durante a Guerra Civil na Espanha.
Me recusava a ver o que estava acontecendo.
Me recusava a aceitar a realidade.
Deus e eu vivíamos num mundo organizado onde tudo fazia sentido.
Quero que saiba que não sou um bom sacerdote.
Tinha fé numa imagem improvável e particular de um deus paterno.
Um deus que amava a humanidade, mas a mim acima de tudo.
Percebe que erro monstruoso eu cometi?
Um sacerdote ignorante, infeliz e ansioso.
Fazia minhas preces para um deus-eco...
que me dava respostas agradáveis e bênçãos tranqüilizadoras.
Toda vez que confrontava Deus com questões reais, percebia...
que Ele se transformava em algo feio e revoltante.
Um Deus-aranha, um monstro.
Então tentei colocá-Lo a parte da vida...
mantendo a imagem que tenho Dele só para mim.
A Única pessoa a quem mostrei meu deus foi minha esposa.
Ela me apoiou, me incentivou e me ajudou.
Tapou os buracos.
Nossos sonhos.
Tenho que ir.
Não vá. Quero que entenda porque falo tanto de mim.
Para que perceba o quanto sou infeliz, o pobre coitado que...
Tenho que ir ou Karin ficará preocupada.
Fique um pouco mais.
Vamos conversar com calma.
Me perdoe por falar de forma tão confusa...
mas de repente isso tudo veio a tona.
Se Deus não existe...
isso realmente faria alguma diferença?
A vida se tornaria compreensível.
Seria um alívio.
E a morte seria a extinção da vida.
O fim do corpo e do espírito.
Crueldade, solidão e medo...
todas estas coisas seriam claras e transparentes.
O sofrimento é incompreensível, portanto não exige explicação.
Não existe um criador.
Nenhum provedor da vida.
Nenhum desígnio.
Deus...
por que me abandonastes?
Agora estou livre.
Finalmente livre.
Tive esperança...
de que tudo não seria ilusões, sonhos e mentiras.
Preciso me preparar.
A missa em Frostnäs começa às 1 5:00.
-Vou com você. -Não.
Vi seu carro, pastor, por isso vim aqui.
Os meninos de Fredriksson o encontraram.
Logo depois da colina.
Jonas Persson.
Ele deu um tiro na cabeça com um rifle.
O delegado está no local.
Os meninos avisaram imediatamente.
Eu os encontrei no caminho. Estavam apavorados.
Poderia cuidar do corpo até que o carro chegue?
Por favor, me ligue.
Até logo, Tomas.
-Conversaremos durante a semana. -Você tem aspirina?
-Claro, e xarope, também. -Vai me ajudar.
-Vamos entrar. -Mas sua tia não está em casa?
Então espere na sala de aula. Não vou demorar.
-Olá. -Bom dia.
-Você é filho de quem? -Dos Strand.
-Quantos anos tem? -Dez.
-Por que está aqui no domingo? -Esqueci uma coisa na carteira.
-Qual o nome do cachorro? -Jim.
-Ele é seu? -Não.
Deve ser do seu irmão mais velho, o que será crismado este ano.
-Também fará aulas de catecismo? -Não.
Por que não?
Não sei.
-Seu irmão acha chato? -Não sei.
Então, tchau.
Olá, Johan. O que faz aqui?
-Deixei uma coisa na carteira. -Como vai seu irmão?
Está bem melhor. Saiu da cama na sexta-feira.
Ele voltará para a escola no meio da semana que vem.
Ótimo. Mande lembranças aos seus pais.
Até logo.
Cuidado, está quente. Serve para fazer gargarejo.
Tem que dissolver os comprimidos em água quente.
Minha tia me deu. Disse que é muito bom.
Não, obrigado.
Minha tia sempre tem dor de garganta e isso realmente ajuda.
Não, obrigado.
Como queira.
Aqui está a aspirina.
-Quer um pouco de água? -Não será preciso.
Você está tão hostil.
Às vezes...
Às vezes, você fala como se me odiasse.
Tome tudo se quiser. Minha tia trouxe bastante.
Não posso ir a Frostnäs com você?
-Vou até a casa dos Persson. -Posso esperar no carro.
Disse que sua tia ia fazer um bolo.
Preciso ficar sozinho.
-Está querendo se livrar de mim? -Não faça isso agora.
-Estou sem forças. -Por que quer se livrar de mim?
Meu querido Tomas, você está ficando velho.
Está insatisfeito com a vida, mas acima de tudo consigo mesmo.
E aqui estou, me jogando em seus braços, aflita.
-Estou forçando a situação? -Julgue você mesma.
Você tem seus sonhos e não dou atenção a eles.
Às vezes, até os desprezo. Eu devia ter sido mais gentil.
-São apenas trivialidades. -Não, não são. Você está infeliz.
Sou muito autoritária. Pode me contrariar se quiser.
Poderia me ouvir?
Desculpe, só eu estou falando.
Me sinto humilhado com o que dizem.
Ninguém prestava muita atenção no pastor.
Ele era simplesmente um artefato...
apesar de ninguém saber exatamente para o que ele servia.
Então, começaram os boatos sobre nós. Toda aquela conversa.
Então é este o seu motivo?
Não precisa zombar de mim.
Case-se comigo, então.
Não.
É dificil argumentar a própria causa.
Sim, é dificil.
Você não pode... Não deve me afastar.
-Como pode ser tão cego? -Não precisa ficar histérica.
Sempre diz isso quando me vê chorar.
-Devo ser uma histérica. -Acalme-se. Pense em sua tia.
Não posso engolir minhas lágrimas.
Continue falando. Ainda consigo escutar tudo que diz.
Achei que havia encontrado uma boa desculpa.
Toda aquela conversa sobre a reputação de um pastor.
Mas você não acreditou.
Eu entendo...
pois era mentira. O verdadeiro motivo...
é que não quero você.
Ouviu o que eu disse?
Claro que ouvi.
Estou cansado do seus cuidados.
Da sua preocupação excessiva.
Dos seus bons conselhos.
Seus castiçais e toalhas.
Estou cansado da sua visão limitada.
Das suas mãos inábeis.
Sua ansiedade.
Suas demonstrações tímidas de afeto.
Você me força a me ocupar com a sua condição fisica.
Sua má digestão. Suas feridas.
Suas menstruações. Suas faces queimadas pelo frio.
De uma vez por toda tenho que fugir destas trivialidades idiotas.
Estou cansado disso tudo.
De tudo que tem a ver com você.
Por que não me disse isso antes?
Por causa da minha educação.
Fui ensinado a considerar as mulheres como seres superiores.
Criaturas admiráveis, mártires incontestáveis.
-E a sua esposa? -Eu a amava.
Ouviu? Eu a amava.
E eu não amo você, porque amo a minha esposa.
Quando ela morreu, eu também morri.
Não me importo com o que aconteça comigo.
Estou sendo claro?
Eu a amava, e ela era tudo que você jamais poderia ser...
mas insiste em querer ser.
O jeito como tenta imitá-la é uma paródia horrível.
Eu nem a conheci.
É melhor ir embora...
antes que eu diga insensatezes ainda piores.
Haveriam piores insensatezes?
Pare de esfregar os olhos assim.
Desculpe.
Pode olhar o quanto quiser.
Eu agüento.
Eu mal o enxergo sem os óculos.
Você está indefinido...
e seu rosto é apenas uma bolha branca.
Você não é real.
Vejo que fiz tudo errado desde o início.
Tenho que ir. Preciso falar com a Sra. Persson.
Todas as vezes que o odiei, transformei o ódio em compaixão.
Você não conseguirá sozinho. Não sobreviverá, Tomas.
Nada pode salvá-lo.
Você se odiará até a morte.
Por que não fica quieta? Por que não me deixa em paz?
Por que não cala a boca?
Quer ir comigo?
Você quer que eu vá? Ou será o medo falando?
Pense o que quiser. Mas estou pedindo que venha.
Claro que eu vou. Não tenho muita escolha, tenho?
Tia, estarei de volta às 1 8:00.
Ela deve ter dormido. Vou checar o fogão.
Seu marido está morto, Sra. Persson.
Eles o levaram ao hospital, mas não há esperanças.
Ele se suicidou.
Então, estou sozinha.
Gostaria de ler um trecho da Bíblia?
Não, obrigada.
Tenho que contar aos meus filhos.
Se precisar de alguma coisa, estarei ao seu dispor.
Devo aparecer durante a semana para providenciar o funeral.
Falei com ele, mas não pude ajudá-lo.
Estou certa de que fez tudo que podia.
Era o sonho dos meus pais que eu me tornasse pastor.
Bom dia.
Os sinos tocaram 20 segundos a mais.
lnfelizmente, eu estava ocupado colocando as velas.
Normalmente, toco os sinos, acendo as velas...
e volto a tempo. Mas hoje, me atrapalhei.
É uma pena. Mas as velas estavam dificeis de acender.
Provavelmente defeito de fábrica. E creio que meu corpo debilitado...
torne meus atos mais lento.
O motivo não importa.
Deixo a igreja na penumbra até pouco antes dos sinos tocarem.
Acho que a luz elétrica perturba nosso espírito de reverência.
Concorda, Srta. Lundberg?
Queria falar comigo?
Sim. Aliás, é uma questão urgente.
Uma vez lhe disse que minhas dores não me deixavam dormir à noite...
-e me sugeriu que eu lesse. -Eu me lembro.
Para me distrair.
Comecei a ler o Evangelho.
Devo dizer que é um excelente sonífero...
pelo menos de vez em quando.
Agora estou na passagem da paixão de Cristo...
e as dores pararam.
Por isso, pensei em discutir com o senhor.
Sinto que devo fazê-lo.
A paixão de Cristo, Seu sofrimento.
Não acha que é um equívoco enfatizar Seu sofrimento?
-O que quer dizer? -Enfatizar a dor fisica.
Não pode ter sido tão ruim.
Posso parecer presunçoso...
mas humildemente digo...
que sofri tanta dor fisica quanto Jesus.
E Seus sofrimentos foram breves.
Duraram umas 4 horas, certo?
Sinto que ele sofreu muito mais em outro aspecto.
Talvez eu esteja errado.
Mas pense em Getsêmani, pastor.
Todos os discípulos de Cristo adormeceram.
Eles não haviam entendido o sentido da Última ceia.
E quando os guardas chegaram, eles fugiram...
e Pedro O negou.
Cristo já conhecia seus discípulos há 3 anos.
Eles conviviam dia e noite...
mas nunca entenderam o que Ele pretendia.
Eles O abandonaram, todos eles.
Ele ficou totalmente sozinho.
lsto deve ter sido um grande sofrimento.
Perceber que ninguém o compreende.
Ser abandonado quando precisa contar com alguém.
lsto deve ser extremamente doloroso.
Mas o pior ainda estava por vir.
Quando Cristo foi pregado na cruz, em meio ao sofrimento...
ele gritou: 'Deus, meu Deus!
Por que me abandonastes?'
Ele gritou tal alto quanto podia.
Ele achou que Seu pai o havia abandonado.
Acho que tudo que havia pregado era mentira.
Nos momentos que antecederam sua morte, Cristo teve dÚvidas.
Certamente, aquele deve ter sido seu maior sofrimento.
Deus ficou em silêncio.
Não tem missa hoje! Não apareceu ninguém.
Você não conta. Digamos que faz parte do rebanho.
Então, como vai?
Este pastor de quem tanto gosta não vale a pena.
Não negue. Uma solteirona não pode escolher muito.
Märta, para o seu próprio bem...
você pode sair daqui, por isso, vá o mais rápido possível.
Tudo em Mittsunda e Frostnäs está prestes a morrer e a ruir.
Veja eu por exemplo.
Lembra-se quando eu fazia saraus...
naquele lixo lá em cima? Eu dava concertos.
E as coisas que Tomas conseguiu.
As pessoas vinham à igreja.
Mas a esposa foi sua ruína.
lsto chamou sua atenção, não?
A pequena mulher.
Minhas velhas galochas conheciam a natureza humana melhor do que Tomas.
Ele só tinha olhos para ela.
Ele estava enfeitiçado.
Que história de amor.
'Deus é amor e amor é Deus.
O amor prova a existência de Deus.
O amor é uma verdadeira força para a humanidade.'
Eu conheço o texto.
Tenho sido um ouvinte atento das efusões do pastor.
Adeus, minha querida.
Caia fora enquanto pode.
Olá, seu velho tuberculoso. Não passe gripe para mim.
-Vamos ter missa? -Não me sinto bem.
Estou vendo.
O rouxinol está lá fora esperando para atender suas necessidades.
Pessoalmente, gostaria de dormir um pouco.
Esta noite vou tocar na loja maçônica.
-Qual é a sua opinião, Algot? -Nenhuma.
Eu devia imaginar.
Estarei lá em cima no órgão.
Algot, me avise quando os sinos pararem de tocar.
Então?
Apenas a Srta. Lundberg está lá fora.
Acho que não deveria dizer 'apenas'.
Está na hora de tocar o sino da missa.
lsso normalmente atrai as pessoas.
Se pelo menos nos sentíssemos seguros...
e ousássemos demonstrar nosso carinho.
Se pelo menos tivéssemos uma verdade para acreditar.
Se pelo menos pudéssemos acreditar.
Vamos rezar a missa?
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo.
A terra proclama a Vossa glória.